Reflexões sobre a faxina

“Deus, qualquer um deles, é igual ao pó de uma casa, ou o calor de um cobertor. Você acha que ele vem de fora, que é algo externo que está lá, a tudo ocupando e lhe acalentando. Mas panos são frios e casas não se sujam sozinhas. No fim das contas, é apenas você que o está criando”.

 

por Félix Rosumek.

Quem é o seu Deus?

Uma posição radicalmente ateista pode até significar que sua vida é uma corrida rumo ao esquecimento ― mas ao menos você pode fazer isso com estilo. Como você se comporta hoje, o que você faz com cada momento, como você explora os talentos e as oportunidades à sua disposição são coisas muito mais importantes para um ateu genuíno do que para os devotos mais religiosos. Longe de perder o sentido, o que você faz nesta vida subitamente torna-se incrivelmente importante, já que você só tem essa única possibilidade de fazer a coisa certa, de mudar alguma coisa, de contribuir de alguma forma para aqueles que você ama ou que seguirão seus passos.

O Guia do Mochileiro das Galaxias

A Criação – Um ano de Duelo de Escritores

No dia 1º de novembro o Duelo de Escritores completou 1 ano de vida. Muita coisa boa já apareceu por lá, e para comemorar e agradecer os votos do público, o Duelo está tendo uma rodada especial, que vale até amanhã. Qualquer leitor pode escrever um contos, poema, música ou o que for com o tema UM ANO e enviar pra gente no duelodeescritores@gmail.com.

Os leitores que vão duelar dessa vez. Amanhã serão postados os últimos textos e dia 7 começa a votação, que vai até o dia 10.

Pra relembrar então esse ano literário, vou publicar aqui o primeiro conto que eu escrevi pro Duelo de Escritores. Na minha opinião, é também o melhor, o que eu mais gosto.

Sábado, 3 de Novembro de 2007

A Criação
Fábio Ricardo

– Maria, o livro vai ser um sucesso, vamos ficar ricos!
– Que bom, Pedro! Mas… você tem certeza? Essas histórias de ficção que você escreve… não fazem muito sucesso, né?
– Que nada Maria, tive uma ótima idéia, você vai ver. Vou contar tudo como se fosse realidade, como se tivesse mesmo acontecido, em um lugar longínquo, anos atrás. Assim as pessoas não vão saber que é ficção!
– Hum… mas como assim? Sobre o que fala o livro?
– Sobre a criação do mundo!
– Mas um livro de ciências? O que você entende de ciências, homem?
– Ciências não, Maria, vou falar de fé! De crenças, de um homem que salva toda a humanidade, um herói!
– Hum… explica isso direito, homem! Como vai ser esse negócio de criação do mundo? Contar a história do Big Bang, é isso?
– Claro que não, Maria! No livro, a criação do mundo foi feita por um homem, um ser superior, e ele criou tudo e todos! Forte, não?
– Mas e como ele criou tudo?
– Eu tava pensando nisso. Ele vai criar o mundo em uma semana! Cada dia ele cria uma coisa diferente: as montanhas, o mar, os animais.
– Uma semana, homem? Tu bebeu, foi? E dá pra criar o mundo todo em uma semana?
– Claro que dá, Maria! Tô te falando que esse homem é bom, Maria. Ele podia ter criado até em menos tempo, se quisesse. Se ele quisesse, podia ter ficado é descansando no último dia. Isso, Maria, que idéia que tu me desse! Ele vai criar o mundo em sete dias, mas vai descansar no último! Pra mostrar como ele era todo-poderoso, entendeu?
– Ai Pedro, isso não vai dar certo.
– Claro que vai, Maria! Claro que vai! Os homens vão até se emocionar quando lerem! Afinal de contas, o livro vai contar a história da criação do homem também, né.
– Ix… e como foi que o homem foi criado, Pedro?
– Eu bolei uma super frase pra esse capítulo, olha só. “Deus…”, er, Deus é o nome desse meu personagem, tá?… Deus!
– Mas Deus, Pedro?
– É, Maria, Deus! Agora deixa eu continuar. A frase é assim, ó: “Deus então criou o homem à sua imagem e semelhança”.
– Mas como é a imagem de Deus?
– Igual a nossa, Maria, ele é todo poderoso, mas ama tanto sua criação que resolveu criar os homens a sua imagem e semelhança!
– Mas criou como, homem?
– Como assim?
– Como ele criou, ué. Tinha forma? Foi magia? Como foi isso?
– E-eu… e-eu não tinha pensado nisso…
– Ai Pedro… Tu e esses teus livros de ficção… Vamos dormir, homem…
– Não, não, já sei. Ele criou o homem do barro!
– Do barro?
– É, do barro, Maria! Ele pegou o barro, moldou o homem, assoprou e pronto: o homem ganhou vida!
– Assoprou?
– É, Maria, assoprou! O sopro da vida! Olha que lindo… O sopro da vida!
– Tá bom, tá bom… e tem mais alguém nesse livro, ou só esse Zeus?
– Deus, Maria, é Deus!
– Tá, Deus. E tem mais ninguém, não?
– Tem sim, Maria. Como Deus gosta muito de sua criação, ele cria uma mulher pro homem, para ele não ficar sozinho.
– E ela é de barro também?
– Não, Maria, ninguém é de barro não, é tudo de carne e osso!
– Mas você falou…
– Esquece o que eu falei, Maria, aquilo era uma metáfora!
– Ah… e como surgiu a mulher, então?
– Ah, Deus criou a mulher de uma parte do homem.
– Do homem, mas arrancou, assim?
– Não, Maria. Ele fez a mulher do homem, entendeu? Pegou o homem e multiplicou ele pra criar a mulher.
– Mas… tipo um braço? Deus pega o homem e diz: “ô tu, agora tu perde um braço, mas ganha uma mulher”? É isso?
– Claro que não, mulher. Deus pega e faz a mulher da… da… da costela! Isso, da costela dele.
– Tá bom, tá bom, Pedro, e o que mais? Eles vivem aonde, se não tem mais ninguém no mundo, só os dois?
– Ah, eles vivem num lugar lindo, cheio de plantas, frutas e animais. E eles não tem pecado nenhum na alma, eles vivem felizes e tudo é perfeito lá.
– E Deus, não aparece em lugar nenhum?
– Aparece sim! Tem uma hora que Deus pega e expulsa eles daquele lugar! Manda eles viverem na terra, cheia de desgraças.
– Mas por que, homem? Credo, que horrível!
– Não, Maria, Deus é bom. Mas é que o homem fez uma coisa errada, muito errada, e teve que ser castigado.
– Errada como, Pedro? Se lá só tinha animais e frutas?
– Ah, ele comeu uma fruta que não podia. Isso, uma fruta proibida! Uma maçã… é, uma maçã que ele não podia comer.
– E por que ele comeu, se ele era tão puro, que nem você falou?
– Porra, mulher, que saco, não? Foi a mulher, é, foi culpa da mulher. A mulher foi lá, roubou uma maçã da árvore proibida e deu pra ele comer.
– Hum… sei…
– É e tem mais, depois, num capítulo mais pra frente, entram outros personagens, um monte de gente santa e cheia de poderes.
– Sei não, Pedro.
– Sim, sim, tem um que cura os leprosos. E ele chega pro deficiente e diz: levanta-te e anda! E o doente levanta e anda! E ele transforma água em vinho, faz os pães se multiplicarem, faz chover sapos…
– Chover sapos? Éca…
– Hum… tá bom, chover sapos talvez não… Mas tem um outro que até faz o mar se abrir. Ele bate o cajado no chão e o mar se abre.
– Pedro, vamos dormir, vamos?
– Mas Maria, esse livro vai mudar o mundo, entendes, Maria? Vai ser o livro mais vendido do mundo, todos terão em casa, vão acreditar nele. O filho de Deus, Maria, todo mundo vai amar o filho de Deus, e o filho de Deus vai amar a todos!
– Sei não, Pedro. Mas ninguém vai morrer nesse livro não?
– Morrer?
– É Pedro, tu sabe que livro sem morte ninguém compra, homem. Essa tua mania de só fazer história de ficção e toda bonitinha…
– Mas quem eu vou matar na história, Maria?
– Mata Deus, ué.
– Deus? Mas Deus não morre Maria, Deus não morre, não.
– Mata o filho dele, então.
– O filho?
– É homem, mata o filho.
– Mas e daí vai terminar assim, uma história triste? O filho de Deus vai salvar a humanidade, Maria, não posso matar ele.
– Ah Pedro, faz assim então. O moleque tem poderes, não tem?
– Tem sim.
– Então mata e depois traz de volta, ué.
– Trazer de volta?
– É, Pedro. Mata ele, daí todo mundo vai se empolgar com o livro, e ele vai vender um monte. Depois, mais perto do final, tu traz ele de volta. Diz que ele ressuscitou. Se ele pode transformar água em vinho, pode ressuscitar, ué.
– Hum… é uma boa.
– É Pedro, mas faz uma morte boa, né Pedro. Nada de doença do coração não. O povo gosta de ler sobre dor e sofrimento. Faz ele apanhar. Isso, faz ele apanhar um monte, daí pendura ele assim numa cruz, de braços abertos, sangrando um monte!
– Credo, Maria.
– Mas é verdade, ué. Coloca um monte de gente pra açoitar ele, põe ele pra carregar a própria cruz até um cima de um morro, e prega ele lá, O povo gosta de ver sofrimento, Pedro.
– Hum… será que vai funcionar?